SEREMOS NÓS NARRADORES DE MEIAS VERDADES?
- Tainá Fernanda Pedrini
- 8 de fev. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 4 de out. de 2021

Em primeiro lugar, salienta-se que este texto não pretende discutir a viabilidade ou não da liberação de entorpecentes. Ele serve para destacar dados encontrados, o (possível) liame entre os temas apresentados e as incessantes dúvidas da pesquisadora, que podem ser esclarecidas pelos leitores deste Blog.
Em 27 de outubro de 2017, o Presidente Donald Trump declarou epidemia de vícios em opiáceos nos Estados Unidos da América (EUA) e o estado emergencial da saúde em razão disto. Destacou-se que as mortes justificadas no consumo dessas drogas causaram um 11 de setembro a cada três semanas[1].
O ocorrido não se resume aos EUA. Na Europa, a morte de pessoas por overdose dobrou nos últimos cinco anos[2]. No Brasil, apesar do crescimento da utilização de opióides, ainda não há alardes quanto ao abuso. Acredita-se que isso se deve à burocracia em conseguir o medicamento, até para aqueles que dele necessitam para fins terapêuticos – com prescrição médica[3]. Os opióides são potentes analgésicos, com propriedades semelhantes à morfina, também indutores de sono[4].
Outro dado relevante é encontrado no número de pessoas que vivem com depressão e seu expressivo aumento nos últimos anos. Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS)[5], entre os anos 2005 e 2015, o número de pessoas reconhecidas com a doença aumentou 18%. No Brasil, atinge 11,5 milhões de pessoas e os distúrbios relativos à ansiedade, 18,6 milhões.
A utilização dessas drogas, sem prescrição médica e a ausência de sintomas físicos reais à utilização de analgésicos, assim como os verdadeiros motivos para o aumento da depressão e da ansiedade generalizada trazem indagações sobre a (in)tolerância da existência humana na Sociedade atual, líquida, ser contribuinte para esses dados.
As redes sociais seriam também relevantes para esses resultados? Uma pesquisa realizada pelas Universidades de Michigan (EUA) e Leuven, na Bélgica, revelou, com experimento em oitenta alunos de graduação, que ao utilizarem passivamente o “Facebook” durante o dia, sentiram-se significativamente piores. No entanto, quando a interação se torna direta, repentinamente, há melhora no humor das pessoas submetidas à avaliação[6].
A fragilidade dos laços, a agilidade e a facilidade de expor qualquer conteúdo informativo “online”[7] e o sensível aumento da exibição da privacidade por internauta reflete a ideia de que somos solitários em meio à multidão de pessoas “online”, narrando nossas próprias estórias (em que o escritor é geralmente uma pessoa comum) que aguarda gradativamente um maior número de “likes”.
Além disso, afloram nossas faltas e comparações aos demais indivíduos – pois concomitantemente se publicam (falsas) felicidades plenas e sofre-se de um círculo vicioso, por não terem a vida que declaram nas páginas sociais.
Viver é, dentre todas as coisas, acostumar-se a um cotidiano comum, às rotinas. Para justificar e enaltecer a existência, baseando-a em fundamentalismo ou não, é preciso frequentemente despertar a beleza da vida e inventar essências que a tornam tolerável. “Existe a dor, a solidão, a finitude representada pela morte, a ausência permanente de paz, o risco da perda de quem amamos, para a insegurança quando um filho tarda em voltar para casa… muitas ansiedades”[8]. Além disso, dentre as mazelas da vida, encontra-se a severa exigência de sermos sempre melhores, no sentido de alta formação intelectual e perfeccionismo estético, principalmente, cada vez mais cedo.
Nessa Sociedade moldada pelas aparências evidenciadas nas redes sociais, procurar cotidianamente o belo da vida parece impossível. A inverdade sobre uma felicidade plena demonstrada pelo outro torna os espectadores, muitas vezes, frustrados. A ansiedade e a solidão acima referidas parecem ter sido agravadas por uma cibercultura de telepresença generalizada[9] – em que os contatos reais entre os indivíduos estão cada vez mais escassos e as vidas parecem cada vez mais perfeitas.
Não há dúvida de que o ciberespaço[10] trouxe diversos avanços à humanidade. Contudo, junto ao “mar” de informação por ele fornecido, tornou-se imprescindível a capacidade, do sujeito que dele se utiliza, de escolher, selecionar e filtrar essas ideias expostas nas redes.
Será que estamos preparados para lidar com as problemáticas possivelmente geradas pelas redes sociais, agravadas pela educação deficitária, assim como utilizamos de seus benefícios? O crescimento dos dados expostos pode ser um alerta de que precisamos agir diante dessa antítese discutida?
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